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depoimentos

As histórias de Germaine, Raquel e Manu

Germaine

Germaine Tillwitz, advogada e cozinheira por paixão, descobriu o câncer pela primeira vez em março de 2016. Ela comentou com seu marido que sentia o seio esquerdo endurecido e deduziu que fosse sintoma do leite empedrado, já que sua filha mais nova estava no processo de desmame. Mesmo assim, seu marido sugeriu logo o exame de ultrassom, por precaução.

 

Germaine recebeu a recomendação de procurar especialistas para realizar a Mamografia e a biópsia. Finalizados os exames, apenas poucos dias depois o resultado chegou e as palavras nele comprovaram o câncer de mama. A doença ainda estava no seu estado inicial, não apresentava metástase, e Germaine teve que passar por todos os tratamentos tradicionais: quimioterapia, mastectomia e radioterapia. 

 

Em depoimento escrito para o site da Scada Café, ela conta que não enfrentou dificuldades com o diagnóstico, nem com o tratamento, já que iniciou o tratamento paliativo logo no início. Porém, quando soube do câncer, sentiu-se assustada e aflita pela família: duas filhas, de dois e quatro anos na época, e o marido. Além do fato de que havia perdido a sogra para o câncer de mama há pouco tempo, o que a deixou ainda mais angustiada.

 

Durante todo o tratamento oncológico que sua sogra teve, apenas lhe foi concedido algum cuidado paliativo no final da vida. Germaine conta que, dois ou três dias antes dela falecer,  a médica paliativista avisou a família que iria tirar a sonda nasogástrica da paciente, porque ela poderia se afogar e seria algo ruim para quem estivesse no quarto. 

 

Apesar de saber que, na guia de proposta terapêutica, constava como orientação o tratamento paliativo, nunca lhes foi explicado que o tratamento da sogra era um tratamento que visava a qualidade de vida.

 

Somente em 2016, o CFM (Conselho Federal de Medicina) recomendou as unidades de cuidados paliativos como as mais adequadas para pacientes com doença em processo terminal irreversível ou sem possibilidade de recuperação. 

Por Mariana Lopes

Raquel

Em 5 de dezembro de 2020 os presentes de natal que Raquel* havia comprado perderam o significado. Ela acabara de receber a notícia de que seu irmão  foi diagnosticado com um câncer no estômago. Ele, que morava em Natal, Rio Grande do Norte, precisou viajar de volta a Fortaleza, Ceará, onde sua família vive. Raquel trouxe seu irmão, os dois sobrinhos e a cunhada, de carro, no dia 25 de dezembro. 

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Hoje, seu irmão continua seu tratamento na casa da mãe, com a esposa, enquanto os filhos foram morar com a tia. Raquel conta que no início a família se encontrava em estado de negação total e até hoje rejeita a ideia do parente está recebendo cuidado paliativo.

 

“Eles não querem nem ouvir. Eu também não gosto de ser a portadora das más notícias, quando existe a fé a partir das pessoas, eu não vou ficar também sendo aquela que diz: “olha, ele tá aqui, mas daqui a pouco pode não tá”. Isso não pode acontecer, né? Mas o que eu tenho feito é enfatizado, com ele e com a família, que existe uma forma de aproveitar os bons momentos.”

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Segundo a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), dois dos princípios do Cuidado Paliativo são: oferecer um sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e melhorar a qualidade de vida, e influenciar positivamente o curso de vida. Para que isso aconteça, a família deve estar ciente da situação e os profissionais devem respeitar as decisões declaradas pelo paciente.

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No Brasil, no entanto, o desconhecimento e a desinformação com relação a essa modalidade de tratamento atrasam a adoção da prática, o que se reflete nas estatísticas. Segundo a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), em 2019, entre os mais de 5 mil hospitais brasileiros, apenas 10% disponibilizam um time de cuidados paliativos.

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De acordo com o que Raquel presenciara ao lado do irmão, ela havia notado que os médicos não costumavam explicar, claramente, a condição do paciente. “Desde a notícia do câncer, da metástase, do comprometimento do organismo com relação ao câncer e da expectativa de vida, a situação do meu irmão não foi muito bem explicada. Então o nome paliativo, até mesmo pela equipe médica, eu achei que foi muito suavemente falada.”  Além disso, ela conta que nem a família nem o paciente estão tendo acompanhamento psicológico para lidar com a doença. “Eu mesma até propus pra esposa (do irmão), porque acho que ela ainda precisa, mas acho que às vezes o caráter religioso impede muitas pessoas de verem a questão do profissional.”

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A questão religiosa, muitas vezes pode ser um ponto diferenciador no andamento dos cuidados paliativos. A Dra. Cinara Carneiro, pediatra intensivista, explica a relação entre a paliação e as questões religiosas e espirituais: “Quando falamos sobre cuidado paliativo, falamos de esferas. Eu tenho a esfera física, que é o que, muitas vezes, o médico acompanha,  mas tem a história familiar, que requer um assistente social, um psicólogo, certo? Então existe o sofrimento familiar, o sofrimento social, o sofrimento físico. E tem a parte espiritual, porque muitas vezes essas pessoas têm uma questão muito forte de sofrimento. E paliação é cuidar do sofrimento.”

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“Por isso que precisa desse papel espiritual dentro da equipe. Porque, por exemplo, eu posso ter um paciente indígena. E qual é a fé do indígena? Não sei, eu não vou saber dar algumas orientações, porque não entendo. Então, assim, é muito interessante quando a gente consegue ter um grupo bem amplo pra fazer esse cuidado.”, justifica Cinara.
 

*Raquel é um nome fictício

Por Mariana Lopes

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