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o tabu da morte

Foi aprovada, em novembro de 2006, pelo Conselho Federal de Medicina a Resolução n°. 1.805/06, que permite ao médico "limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade do doente ou de seu representante legal".

Uma pesquisa realizada em 2010 pela publicação britânica The Economist, avaliou a qualidade de morte em 40 países, o Brasil ficou em terceiro lugar como o pior país para se morrer. A qualidade de morte foi avaliada mediante índices como disponibilidade de acesso a cuidados paliativos. 

 

Em 2015 a pesquisa foi refeita incluindo outros países e ficamos em 42º lugar entre as 83 nações avaliadas.

 

Esses dados mostram que não há um preparo ideal para se morrer, e que os médicos do país ainda não estão preparados para aceitar a realidade da própria morte para conduzir o processo de morte de seus pacientes.

 

Em uma pesquisa de 2018 solicitada pelo sindicato do cemitério de crematórios particulares do Brasil e realizada pelo Stúdio Ideia - que buscou identificar a percepção dos brasileiros frente a temas relacionados à morte. 

 

Os principais resultados encontrados foram: 74% afirmam não falar sobre a morte no cotidiano. Os brasileiros associam também a morte a sentimentos difíceis como tristeza (63%), dor (55%), saudade (55%), sofrimento (51%), medo (44%). Somente uma pequena parcela faz Associação a sentimentos que não estão no campo da angústia como aceitação 26% e libertação 19%.

 

Em uma escala de um a cinco (em que um indica que não está nada preparado e cinco muito preparado) a nota foi de 2,6 para avaliação sobre se o brasileiro está pronto para lidar com a morte em relação à própria morte a média cai para 2,1. Quanto mais se envelhece, mais presente o tema da morte se torna cotidiano. 

 

Esse tipo de conversa está presente para 21% dos jovens entre 18 e 24 anos; para aqueles com mais de 55 anos o percentual salta para 33%. Mesmo havendo diferença entre as faixas etárias ela ainda é bem pequena. Uma parcela significativa dos entrevistados vê o tema como algo depressivo (48%) e mórbido (28%).

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Muitos estudiosos da tanatologia compreendem que a morte é uma forma de representação social e a sociedade pratica varias tentativas de banir e afastá-la da vida.

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Porém, não foi sempre assim. Durante a Idade Média a morte era um fenômeno comum, costumeiro, que causava uma dor tolerável, posto que não era uma ruptura entre o aqui e o além e os ritos eram comunais. Nas imediações do século XV há o lento desenvolvimento de um sentimento de individualidade, que questiona a salvação e a imortalidade.

 

O medo do além começa a se manifestar em uma sociedade que vivia de maneira familiar com ela. As ações individuais são pesadas na balança do Bem e do Mal, visando ao Céu ou Inferno, criando-se a morte romântica.

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A morte transforma-se em acontecimento detestável no século XIX, pois representa uma ruptura no andamento normal da vida. As práticas funerárias são apropriadas pela família, pela medicina e pelo poder público. 

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O século XX traz uma transformação da morte. que deixa de ser "tudo", parte constituinte da vida normal e do ciclo pessoal, para se tornar "nada", ocultada do dia-a-dia, tratada com indiferença. O luto é abandonado às práticas individuais, com a finalidade de poupar a coletividade. É um luto privatizado. Isso explica ainda a transferência do ato de morrer para o hospital, aonde o doente se despersonaliza, ao mesmo tempo em que se protege a família da morte, o doente das pressões emocionais dessa família e a sociedade da publicidade da morte. Esta passa a ser uma espécie de responsabilidade técnica passível de ser controlada.

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