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Comunicação e os Cuidados Paliativos

Conversando com alguns médicos e enfermeiros, é fácil perceber a preocupação em atender às necessidades dos pacientes por meio da comunicação verbal e não verbal. Eles destacam a importância do olhar, do toque, do carinho e do conforto, inseridos no universo do modo não verbal de se comunicar, na relação direta com o paciente terminal. 

Comunicação e o fortalecimento do vínculo entre enfermeiro e o paciente terminal

A Dra. Cinara conta que não chegou a estudar cuidados paliativos na faculdade, mas ressalta que houve a abordagem em comunicação. “Pegamos muita habilidade de comunicação, desenvolvimento pessoal, que já foi um diferencial na minha formação, mas eu não me recordo se nós tivemos contato com paliação, se nós tivemos, foi muito pouco.”

Assim sendo, a participação no cuidado de maneira verbal e não verbal, depende da abertura estabelecida entre as pessoas envolvidas, de forma que isso permita a sua proximidade no relacionamento existencial, e elas apresentem sua própria singularidade.

Convém ressaltar que o emprego apropriado da comunicação verbal e não verbal é uma Ciência & Saúde Coletiva, medida terapêutica eficaz para os pacientes terminais. 

É dever do enfermeiro ouvir e perceber o paciente; identificando qual o estágio do processo de morrer em que se encontra e quais são suas necessidades, para orientar e capacitar sua equipe a suprir as demandas, possibilitando-lhes uma interação terapêutica, por meio da empatia e da criação de um ambiente saudável, humanizado e sistematizado. 

Um dos aspetos da comunicação que influencia as estratégias da linguagem verbal pelos enfermeiros é o tom de voz, que deve ser firme e seguro quando necessário, como, por exemplo, para dar um diagnóstico, e doce o suficiente para se expressar numa situação de apoio psicológico ou um gesto de afeto.

 

Portanto, a comunicação verbal é estabelecida através de palavras que expressam um pensamento, clarificam um fato ou validam a compreensão de algo, porém não é suficiente para caracterizar a complexa interação do que ocorre no relacionamento humano, desse modo é essencial ser acompanhada por emoções e sentimentos para se poder compreender não só o significado próprio da palavra, mas também os sentimentos que vêm implícitos na mensagem.

 

A comunicação não verbal revela sentimentos e intenções, razão por que os sinais devem ser clarificados e questionados de modo a se compreender bem mais o momento vivido. 

O estabelecimento de vínculo é o objetivo do relacionamento interpessoal, ele requer a comunicação não verbal, imprescindível na relação entre o cuidador e o ser que é cuidado, que passam a confiar um no outro a partir da demonstração de empatia e de transmissão de segurança, por meio do olhar, do toque, dos gestos, das posturas corporais e do ouvir.

 

A grandeza da escuta ativa, na prática dos cuidados paliativos, também é muito considerada segundo alguns enfermeiros. Entrevistamos uma enfermeira que não quis se identificar, ela deu seu depoimento em relação ao assunto:

“É importante que o profissional sempre escute as preocupações dos pacientes e de sua família, seus anseios, suas dúvidas, seus desabafos, promovendo um cuidado com qualidade. A questão de ouvir o outro é de suma relevância para entender as necessidades e anseios do paciente/cliente. Procuro ser empática, interagindo, acolhendo, ouvindo com calma e prudência, respeitando a vontade do paciente, é importante acolher o paciente e seus familiares e fazer a escuta com qualidade, para assim fornecer segurança para eles.”

Os enfermeiros, a partir de uma comunicação eficaz, demonstram preocupação e interesse pelos pacientes terminais e por sua família, escutando-os, buscando esclarecer dúvidas a respeito do estado de saúde e proporcionando-lhes segurança.

 

Uma das principais habilidades de comunicação necessária aos profissionais da Saúde é a escuta, que deve ser atenta e reflexiva, para que o profissional possa identificar as reais necessidades dos pacientes. 

Mostrar-se disponível para ouvi-lo e compreendê-lo é uma maneira eficaz de ajudá-lo emocional e espiritualmente.

 

Escutar os pacientes terminais significa concentrar-se no paciente e em suas reais necessidades, em diferentes aspectos. Quando o profissional está preparado para a escuta, o paciente e seus familiares se sentem atendidos e satisfeitos em seus anseios e preocupações. 

É imprescindível que o enfermeiro transforme sua forma de assistir, passando do fazer para o escutar, perceber, compreender, identificar necessidades, para somente então, planejar ações, nesse sentido, o escutar não é apenas ouvir, mas permanecer em silêncio, empregar gestos de afeto e sorriso que expressem aceitação e estimulem a expressão de sentimentos.

Comunicação na medicina e sua relação com os Cuidados Paliativos

 

Existem várias categorias de comunicação na medicina. A “Comunicação na prática Médica” pode ter várias vertentes; a mais habitual, e a que estamos mais acostumados a vivenciar é a “conversa de consulta”; ouvir a história do paciente, entender o que ele está passando, absorver as informações e poder transmitir o que é necessário para uma boa prescrição médica ou tratamento são situações rotineiras em uma consulta, é a chamada anamnese, um estágio obrigatório do bom atendimento.

 

A comunicação é um todo na profissão médica, que não é só palavra, não é só escrita, é atitude na totalidade, para outros, revela-se um simples instrumento para conseguir dados suficientes e necessários para o diagnóstico. Comunicar é se fazer entender pelo paciente, para se conseguir as informações, dar e receber dados específicos, entram em pauta as discussões sobre a fala, a linguagem médica, a linguagem popular, e a sua adequação no ato comunicativo entre o médico e o paciente. A adequação da linguagem do médico é mencionada como atividade necessária, tanto para se obter as informações para o diagnóstico, quanto para explanação do prognóstico e da prescrição. 

 

Uma pesquisa a respeito da qualidade em cuidados de saúde realizada em 2017 pelo fundo Commonweath mostra que 25% dos americanos relatam não terem seguido as orientações médicas, motivados pelos seguintes fatores:

39% discordaram do que o médico queria fazer, em termos do tratamento recomendado;

27% estavam preocupados com os custos do tratamento;

25% acharam as instruções muito difíceis de seguir;

20% disseram que as orientações iam de encontro às suas crenças pessoais;

7% relataram que não entenderam o que deveriam fazer.

 

Essa é uma taxa bastante alta de pessoas que abandonaram o tratamento, independentemente das motivações. E, quando isso acontece, não há como garantir a eficiência dos tratamentos, minimizando as hipóteses de cura e levando até ao agravo das condições.

 

Essa mesma pesquisa mostra que a comunicação médica bem-feita é um dos principais elementos que influenciam a satisfação do paciente em relação à instituição em que ele foi atendido. Ela aumenta enquanto se percebe que os membros da equipe de saúde levaram o problema a sério, explicaram as informações com clareza e tentaram entender a situação do paciente, demonstrando quais eram as opções viáveis.

Outro estudo de 2016, realizado pela CRICO Strategies, indicou que falhas de comunicação estão ligadas a 1.744 mortes de pacientes em cinco anos nos Estados Unidos, incorrendo em custos de 1,7 bilhão de dólares.

 

Há também um trabalho da Universidade da Califórnia que demonstrou que mais de um quarto das readmissões hospitalares poderiam ser evitadas caso houvesse uma comunicação melhor entre as equipes de saúde, provedores e pacientes.

Em conversa exclusiva com a nossa equipe de reportagem, o Oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o Doutor Ricardo Caponero contou sobre esta comunicação que se tem na medicina.

“Desde o início da minha carreira na oncologia percebi que a comunicação era um ponto crítico e de fundamental importância. Me aprofundei progressivamente nesse assunto, que se tornou cada vez mais significativo com meu envolvimento com os cuidados paliativos. A comunicação impecável é a principal ferramenta na comunicação de más notícias e nos cuidados paliativos na totalidade. Isso é tão importante que existem diversos protocolos para a estruturação das técnicas de comunicação e até uma diretriz da American Society of Clinical Oncology (ASCO) a esse respeito”, explica.

A relação nítida entre a comunicação e os cuidados paliativos. Ter uma boa abordagem de um tema sensível, podemos entrar em outras questões como a enfrentamento da morte. O doutor Ricardo falou sobre a tanatologia (estudo da morte) e como a comunidade médica lida e vê a morte hoje em dia:

“O estudo da tanatologia fica restrito à disciplina de medicina legal, por uma breve parte do currículo da formação médica. A formação do médico é muito mais prática, de lidar com a morte na lida cotidiana do que nos estudos psicológicos e filosóficos. Costumo dizer que essa é a diferença entre a formação do psicólogo (de foco hospitalar) e do médico. Os psicólogos conhecem muito bem todas as teorias, mas a maioria nunca segurou na mão de um paciente que faleceu."

 

Segundo Ricardo, os médicos têm um contato mais próximo, mas só aprendem a lidar com isso “no tranco”, ele continua:

 

“O contato com a morte não melhorou, ao contrário, com o desenvolvimento da medicina a tecnocracia continua imperando. A fragmentação das especialidades faz com que, muitas vezes, se perca a visão global do paciente. Hoje temos vitrologistas, retinólogos e especialistas em refração só para cuidar do olho! e Todas as especialidades, que já eram uma fragmentação, passam pelo mesmo processo. ainda precisamos reintegrar que os profissionais têm do ser humano, não só do ponto de vista biológico, mas do ponto de vista antropológico. Os colegas da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (SOBRAMFA) têm feito um trabalho magnífico na educação médica, mas ainda são uma pequena ilha perdida no oceano. Hoje todo profissional quer ser o grande especialista em alguma determinada capacidade técnica, mas temos cada vez menos "humanólogos".”

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